Bom, como todos sabem, a lei da inclusão já está em exercício e eu não sou contra, afinal, como mostra no comercial, "ser diferente é normal!". Muitas pessoas podem até pensar: é fácil falar quando não se tem um filho ou não se é um deficiente, pimenta no olho alheio é refresco. Mas não é bem assim. Quem vê de fora, muitas vezes vê bem melhor. Eu, por exemplo, tenho alunos com deficiência auditiva no nono ano do ensino fundamental e vejo de perto os enormes obstáculos e preconceitos que eles encontram em sua jornada. O nível de interesse deles em relação ao aprendizado é bem superior ao dos ouvintes, a força de vontade que eles demonstram é uma grande lição àqueles que não têm motivos para se queixar da vida. Sempre digo que aprender a viver é melhor do que compreender todas as ciências do mundo, e esses alunos contribuem bastante para o dia a dia de quem desconhece as limitações do ser humano.
A língua portuguesa, para esses alunos especiais, é na realidade a sua segunda língua, como o inglês é para nós. A língua natural da comunidade surda é a Libras (Língua Brasileira de Sinais), e é quase nula a quantidade de professores que têm conhecimento dessa nova língua. Eu mesma não nego a minha total ignorância com relação à mesma, e não acredito que seja uma condição obrigatória no mundo atual, afinal cada um tem sua própria formação profissional e eu escolhi ser professora de português. Mas quando me deparei com alunos surdos, várias dúvidas surgiram em minha mente: Como vou manter o mesmo ritmo de aulas na presença de alunos ouvintes e não-ouvintes? Devo mudar minha maneira de dar aulas? Será que os alunos limitados irão corresponder às minhas expectativas tanto quanto os alunos normais? Enfim, me senti um pouco frustrada por não poder me comunicar diretamente com eles e por não correspondê-los como eles merecem. Foi então que me veio o seguinte pensamento: por que é tão difícil para a sociedade moderna admitir que o aprendizado dos não-ouvintes seria beeem mais produtivo em um ambiente próprio para eles? Qual é o problema em direcionar tais alunos a um local onde professores e funcionários são especializados e treinados para lidar com esse tipo de deficiência? Será que vale realmente a pena manter um filho numa escola pública só para dizer que ele frequenta o mesmo ambiente de crianças ou adolescentes normais? Não adianta tapar o sol com a peneira, pois os raios vão ultrapassar; da mesma forma que não adianta tentar unir ouvintes e não-ouvintes, porque eles próprios vão se separar, seja para interagir no recreio ou para fazer um trabalho em grupo. Falo isso não porque quero, mas porque vejo! É a mesma coisa de não querer dar uma cadeira de rodas ao paralítico por acreditar que ele pode andar com suas próprias pernas.
Os alunos surdos são algumas vezes insultados e rejeitados pelos colegas ouvintes, e nem sempre percebem que são vítimas. Por que não então frequentar locais onde eles possam se ver como pessoas iguais, onde possam ser respeitados e motivados a crescer? Ser surdo não é engraçado, não é motivo para brincadeiras de mau gosto e muito menos para provocar pena nas pessoas. Quem sabe seja o momento certo para repensar o futuro dos surdos, para que eles evoluam de modo adequado e, principalmente, para que aprendam a superar as dificuldades sem fugir da realidade que os envolve. Acho que está na hora de colocarmos as leis de lado e começarmos a priorizar a formação dessas pessoas, afinal eles merecem toda a atenção e exclusividade possível!
Soraia Labegalini